Até quando o Homem continuará a desdenhar da Paz?
- Prof. Acúrcio Domingos
- 13 de fev. de 2022
- 2 min de leitura
Quase sem darmos conta, tal é a quantidade despropositada e desproporcionada de notícias que nos são atiradas, sem filtro ou critério, ficamos submersos pela nossa própria curiosidade, sem qualquer saída apetecível. Entre um alegado terrorista e uma guerra iminente, fica difícil descortinar que doença atravessa o mundo, sendo melhor conjugar o verbo no plural, porque são muitas. Quando era miúdo, o meu pai alertava-me, bastas vezes, para a ideia de que “vai-te embora Mundo cada vez para pior”. Tenho relembrado essa sabedoria simples, que adivinhava o futuro não pelas notícias, escassas na altura, mas pelos comportamentos fora do vulgar de se ia tomando conhecimento. Não creio que fosse uma qualquer teoria da conspiração, porque a convicção interior não o permitia vislumbrar, no perímetro fechado da aldeia. Mas essa antevisão sábia vinha carregada de interrogações que mereciam ser consideradas como avisos à navegação. A modernidade ufana-se mesmo diante das suas próprias impossibilidades e os casos que temos entre mãos, e que nos preocupam, ou deviam, são a melhor prova disso. Nenhum de nós foi feito ou educado para pensar no desequilíbrio individual e coletivo. Nessa medida, o alarme só soa quando o inesperado ou o absurdo acontecem. Do lado do efeito, ainda bem que assim é. Nessa medida, as notícias do alegado bombista, apostado em criar horror na Faculdade de Ciências, são largamente exageradas, porque, ao contrário do que pretendem, espalham o pânico e o medo a rodos, contrariando princípios básicos da arte criminal alimentada pela presunção de inocência e pela cautela de proteger as sociedades. Pior é sentirmos que o coração da Europa está a arder. Não ainda no ribombar das bombas ou dos mortíferos ataques, mas na consciência de que, sem pudor e sem mudarmos de rumo, corremos o risco de desaparecer. Esta semana, na escola, estivemos a viajar pelas vias outras, da reconciliação e do perdão, palavras hoje indivisíveis, ou quase, e a correrem o risco de serem banidas da Wikipédia e dos bons dicionários. E, apesar de toda a densa nuvem negra que paira sobre nós e o espaço e tempo que habitamos, a única via possível para garantirmos a sobrevivência. Até quando o Homem continuará a desdenhar da Paz que é necessária, possível e urgente? Talvez devêssemos acrescentar a todas as disciplinas um prefácio a esse respeito… Seria, seguramente, uma reflexão inteiramente atual.
Lisboa, 12 de fevereiro de 2022
Texto: Prof. Acúrcio Domingos

Comments