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  • Prof. Acúrcio Domingos

Ainda a Europa

À hora a que escrevo, uma parte do país está entretido a tentar descodificar os discursos de Mácron, outra preocupada com a continuidade a guerra na Ucrânia, outra abundante gente a tomar partido pelo Jonny Depp ou Ex. e uns quantos a ressacar do programa de Ricardo Araújo Pereira, que vai animando as hostes pátrias com misérias domésticas e não são poucas. Sobra um areal curto para observar as estrelas, que são sempre a luz que guia e conduz os nossos pensamentos mais profundos, mas sempre assim foi. Há quem reclame deuses, pagãos ou outros, para proteger um mundo em derrocada, ou quem, à falta de melhor fé ou conversão, invoque os santos mais políticos para a pacificação do mundo, esquecendo que esse jogo, por obsceno, só tem mão humana, porque os deuses, mesmo os mais guerreiros, sempre se escudaram noutros mitos ou fantasmas, mas nunca se mostraram atreitos a tomar dianteira em qualquer guerra ou combate. Mesmo na história que nos foi ensinada, essa matriz estava lá toda esplanada, diabolizando-se os invasores e os seus deuses, mesmo sem os vislumbrar ou saqueando-os todos para proteção mais duradoura, à romana, por falta de critério ou de gosto. É bom que poupemos os deuses às nossas tragédias e divagações, porque, os que existem incarnaram o tempo e as agruras da humanidade inteira, num esforço de meter juízo nas suas cabeças. O espelho trágico da modernidade não nos serve retratos de deuses, mas, apenas, imagens de uma humanidade que todos os dias se consome na mesquinhez, servida em lautos jantares de poder ou de chocante brutalidade. Talvez valha a pena, como filhos da civilização das luzes apontar-lhes a mira novamente e descobrir em que ponto do caminho ficámos às cegas, por culpa ou desnorte de todos. Só quando a Europa reacender os seus luzeiros por inteiro e sem intermitências ou jogos de bastidor, poderemos sonhar com o já o fizemos de grandeza e precisamos de voltar a empreender. Talvez o humor caseiro do Ricardo Araújo Pereira ajude a limpar o olhar sobre o mundo à nossa volta. O riso e a ironia são excelentes atalhos para chegar ao essencial!


Lisboa, 10-4-22- Acúrcio


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