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  • Matilde Silva

Gisberta: Respeito? Nem mesmo depois de morta.

Atualizado: 7 de jul. de 2021


Gisberta, uma mulher transexual obrigada a deixar o seu país para fugir a uma vaga de crimes de ódio em São Paulo, Brasil, que se sujeitou a dolorosos tratamentos hormonais em França para que pudesse ser aceite como a mulher que era, que veio atuar num dos primeiros bares gays do Porto, em Portugal, e que, por não conseguir arranjar emprego, uma vez que o seu nome não havia sido legalmente reconhecido nos documentos pessoais, viu-se forçada a virar-se para a prostituição.

Posteriormente, descobriu que era seropositiva, não conseguiu renovar o visto de residência, passando a imigrante ilegal, e foi expulsa do apartamento onde residia. Montou uma tenda com barrotes de madeira e plástico ondulado num prédio em construção frequentado por três jovens graffiters que, numa fase inicial, se dispuseram a ajudá-la com bens alimentares, mas, após algum tempo, foi troçada, insultada, despida à vista de todos, vexada, humilhada, espancada e torturada por um grupo de colegas de escola dos três jovens que tinham entre 12 e 16 anos.

No dia 22 de fevereiro de 2006, após o grupo de jovens encontrar Gisberta deitada no chão, muito pálida, nua da cintura para baixo, sem conseguir falar ou reagir, concluiram que estava morta, arrastaram-na no chão por cerca de 100 metros e atiraram-na ao poço do edifício, numa tentativa de se livrarem do corpo. Gisberta ainda não estava morta, acabando por falecer por afogamento.

Transexual, prostituta, seropositiva, imigrante ilegal e sem abrigo, Gisberta foi vítima de inúmeros crimes de ódio, não só por aquele grupo de jovens, mas também por parte da sociedade, que lhe falhou de todas as formas possíveis. Ainda hoje, a maioria dos artigos que falam sobre o que lhe aconteceu se referem a ela com um nome que não é o seu. Inclusive, no passado dia 21 de fevereiro, que marcou 15 anos sobre o seu assassinato, a TVI emitiu uma reportagem sobre o assunto. Nos primeiros 30 segundos da mesma, mesmo após ser referido que se iria “respeitar a decisão que tomou em vida”, referiram-se a ela como um homem e usaram múltiplas vezes o nome que lhe fora atribuído à nascença. A primeira vez que a trataram por Gisberta foi na seguinte frase: “Gisberta: a diva que acabou no fundo de um poço”.

A discriminação foi a causa da sua morte. Discriminação essa que a atormentou durante toda a sua curta vida e que nunca parou de a perseguir, nem mesmo depois de morta. Nem mesmo quando supostamente a querem honrar e homenagear. A ela e a todos os transexuais que continuam a lutar para serem tratados como pessoas.



Texto: Matilde Silva, 11.ºH1.

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