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Tu és o capitão da tua alma

  • Prof. Acúrcio Domingos
  • 16 de abr. de 2022
  • 2 min de leitura

“Tu és o capitão da tua alma” (do filme Invictus)


No naufrágio em que uma parte do mundo mergulhou, arrastando todos na enxurrada, precisamos de vir à superfície para respirar e criar ilhas seguras, onde possamos recuperar a energia e imaginar já a vastidão do que que precisamos de ver e reconstruir. Mais do que uma leitura apocalíptica, trata-se apenas de reconhecer a aparente impotência que se vai apoderando de todos nós. Sem entrar em grandes ziguezagues filosóficos, que nos remeteriam para leituras mais profundas da natureza humana, fico-me pela perceção que vamos tendo de que a humanidade foi baixando as baias da exigência em termos espirituais/morais. O salto de uma sociedade sacralizada para outra em que a secularização extremada reduziu o mundo apenas a leituras individuais, sempre frágeis e voláteis, deixados à mercê juízo pessoal de cada de cada um, desprovidos de referenciais sociais “intocáveis”, desemboca, como já aconteceu no passado, na barbárie a que assistimos, servida em doses individuais ou coletivas. Dir-se-á que os valores estão lá, que nunca como hoje foram tão conhecidos e explicados. Tudo isso é verdade, mas, sendo assim, como explicar os descuidos individuais e os desmandos do mando global? Temo que nos tenhamos desviado do essencial, mesmo sem darmos conta. As grandes desgraças não brotam do chão, sem causas. Elas são muito mais do que falta de explicação ou surpresa. Pouco a pouco, fomos adocicando a nossa exigência pessoal ou desleixando a exigência das relações pessoais ou de grupo. Sem querer, fomos entrando numa espécie de banalização das relações, como se o futuro de cada um e de todos não fosse o resultado dessa necessidade de olharmos bem uns pelos outros, sem perder a capacidade de escuta e compaixão. A empatia que se pede e espera de cada um de nós frente a cada outro que nos rodeia, exige sempre o inevitável respeito desse outro como reflexo do nosso olhar, na feliz expressão de Lévinas! O antiquíssimo Livro de Génesis já nos acordava para o apagão, que nunca pode ser permitido diante do mal que se faz ao outro. “O que fizeste ao teu irmão” é o primeiro grito de Deus a lembrar-nos que o cuidado pelos outros e com os outros não é uma moeda de troca ou uma saudação entre amigos. Ele é, antes de tudo, um grito de consciência universal. Acredito que o segredo da mudança resida aí. Trabalhar, sem concessões, a sensibilidade e o cuidado no trato de quem se cruza na nossa vida, relembrando-nos o desafio em título! Talvez esse seja um dos temas transversais mais urgentes nas nossas vidas. Em casa, na escola, onde quer que estejamos, face a face com um ser humano. Nas mãos de todos, sem exceção!


Lisboa. 12-4-22- Acúrcio



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