Ser bom...
- Prof. Acúrcio Domingos
- 26 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
A bondade não se compra nem vende. Sobretudo nos tempos que correm, onde tal virtude sofre de grandes danos de imagem! Habituados às trocas diárias do deve e haver, escasseia o tempo para deixar a bondade espraiar-se a seu gosto. Há uns anos, eu chamava a essas palavras, termos indizíveis. Hoje, além de indizíveis são, habitualmente, pouco fazíveis. E, no entanto, a quem trouxermos a perplexidade de os ver ou usar, dirá, sem hesitações, e que falta nos fazem a todos! Sinal dos tempos, somos lestos a despertar diante da catástrofe ou do inesperado, mas demorados a incluir nos dias serenos, ou nas “rotinas”, esses inadiáveis interiores. O pior é que todo esse sumário diário, aquele que se balança no vaivém dos dias, precisa dessa marca, uma espécie de DOP individual, à espera de quem se junte e beba essa vontade ou ambição. Não sei se os novos tempos que se avizinham, e com eles os novos figurantes, comungarão da mesma vertigem! Como não sou dado a astrologias, mas racionalizo, dentro do possível, o que vejo, encho-me de dúvidas. Os modernos privilegiam mais a ambição do que a grandeza. E, nessa medida larga e sem critério, tudo pode valer, mesmo prescindir da nossa marca original, imaculada, que nos foi inscrita no tempo da entrada no Mundo. Talvez a grandeza, na primeira rodada do dia a dia, servida em moldes contemporâneos, ceda perante a ambição. É muito provável. Mas aquilo que, no final, fica de cada um de nós, e do que somos ou fizemos, é o epitáfio curto e discreto, como a legenda maior que sintetiza tudo o que cada um de nós foi e continuará para sempre a ser: “um ser humano bom”. De que precisamos mais? Que outros méritos nos faltam?
Lisboa, 26/01/22
Texto: Acúrcio Domingos

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