Sejam e ajudem outros a serem felizes!
- Prof. Acúrcio Domingos
- 23 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
Tenho um vizinho, a quem faleceu a esposa, minha vizinha das Beiras. Como a maior parte dos viúvos, e não só pelo luto da perda maior das suas vidas, mas pela solidão a que estão votados, passa o dia em casa, sempre encostado à janela, a rezar o tempo, a ver e a tentar meter conversa com quem passa. Há dias atrás, deitou a cabeça de fora e sussurrou-me baixinho: - Quando passar, fale-me sempre! Dei por mim a pensar no pedido, a que sempre tento aceder, mesmo que, às vezes, o senhor João não consiga ver o aceno que lhe faço. Relembrei o livro de Eduardo Galdeano e a história do menino que, na véspera de Natal, em pleno hospital, lhe pede para dizer a alguém que estava ali. São estes golpes de humanidade que o nosso tempo, demasiado impessoal e propenso a grandes e duradouras solidões, de vez em quando, nos sinaliza o grito de cada um: Eu existo! Por detrás do desejo do meu vizinho de bairro, quantos mais estarão escondidos atrás de portas ou janelas, sem possibilidade de virem agarrar-se a cada um de nós, como cuidado aos nossos semelhantes, retirando-nos de uma ausência que nos consome a nós e ajuda outros a definhar? O perigoso jogo do individualismo extremo em que mergulhámos e de onde temos dificuldade em escapar, é uma epidemia que, rapidamente, se pode transformar em universal pandemia. É preciso contrariarmos diariamente esta nossa falha a um dever universal de solidariedade, a que nos devíamos vincular, e a única vacina que pode eficazmente contrariar a desagregação familiar, escolar, profissional e social, a que parece estarmos condenados hoje em dia! Há muitas vidas à espera de coisas bem simples, na ponta da nossa mão e do nosso olhar! Mesmo à nossa frente! Sejam e ajudem outros a ser felizes.
Vila Viçosa, 21 de janeiro de 2022
Texto: Acúrcio Domingos

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