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O provincianismo dos eurocratas

  • Prof. Acúrcio Domingos
  • 29 de abr. de 2022
  • 2 min de leitura

Pondo de lado a ironia, que é coisa que nem toda a gene gosta, apesar de ser um recurso estilístico de grande alcance, importa voltarmos ao tema central da conversa, que é o de uma enorme parte dos cidadãos europeus estarem completamente às cegas, quanto ao funcionamento das instituições europeias, e se afastarem de as conhecer ou compreender, para lhes sugarem a importância que têm no governo europeu de todos nós. Há uns anos foi lançado, com menos pompa e circunstância, convenhamos, um programa destinado a motivar os alunos para cidadania europeia, em especial para votarem nas eleições europeias, ocorridas, entretanto. Nessa altura, o grupo de professores da escola, envolvido nestas andanças sinalizou logo a fragilidade do programa, por se apresentar apenas como motor da dinâmica eleitoral pretendida, sugerindo que o programa das “ Escolas Embaixadoras do Parlamento Europeu” tivesse outra orientação e outro fôlego, assumindo-se como cadeia de transmissão das instituições europeias nas escolas, ampliando o conceito de cidadania para uma patamar mais vasto e atualizado, envolvendo na onda o entusiasmo e participação de todas as escolas do país e, se possível, de toda a Europa. De resto, mostrou-se nessa altura a virtualidade do proposto, com planificação adequada de atividades, congregando o acerto na proposta, na escolha que foi feita pelo Gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa deste modelo, como o mais arrojado e com maior dinâmica para atingir os objetivos. Embora afastado destas andanças, como europeu convicto, não posso deixar de desdenhar do que agora é proposto, por não ter sumo, por não ter densidade pedagógica bastante para alcançar o que, os iluminados do costume, desejam, mas não sabem ou não querem cuidar. Quando ontem brinquei com as atitudes dos portugueses rijos e habituados à dureza da vida, que não têm nem tempo nem recursos para a virtuosa virtualidade do stand virtual, era precisamente aí que queria chegar, ao atavismo que os nossos políticos de carreira padecem. Se calhar, habituados às entradas gourmets de Estrasburgo ou Bruxelas, esqueceram-se que os pratos, que eles empanturrados dispensam, são os pratos indispensáveis aos cidadãos normais, que não pisam os corredores alcatifados do poder. Pior é não perceberem que o projeto que tinham, entretanto, lançado e em movimento, tinha todos os ingredientes para alargado e aprofundado fazer sentir aos jovens a importância das instituições europeias e, mais importante ainda, ser um dos desafios das suas vidas, como europeus de corpo inteiro. Se há imagem impressiva para retratar a situação, é a do comboio de alta velocidade em Portugal. Quanto tempo perdemos em estudos, apresentações virtuais, stands virtuais de propaganda… e só nos resta o alfa pendular, no fim de todo este tempo? Enquanto isso, outros jovens europeus sobem já, há muito, a bordo do TGV europeu. É pena, por todos nós, mas, sobretudo, por eles, os jovens, os únicos que podem consolidar ou recuperar a ideia de uma Europa unida e a uma só voz. Também aí se joga grande parte do 25 de Abril!


Vila Viçosa, 25-4-2022 - Acúrcio


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