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O poder das lágrimas

  • Prof. Acúrcio Domingos
  • 15 de mar. de 2022
  • 2 min de leitura

Há lágrimas que nos limpam a alma. São aquelas que saem dessa espécie de “poço de Jacob” interior e escorrem pelas faces, espraiando-se por todo o rosto, devagar. Quando essas lágrimas têm nome de crianças, solta-se em nós um sobressalto, deixando-nos na paralisia de como reagir. Esta semana, nas escolas do Agrupamento, a propósito das atividades que dinamizámos sobre a paz necessária, aconteceu duas vezes com os nossos alunos. Felizmente, num dos casos, estava por perto a professora que, sabiamente, acariciou o rosto do menino, ajudando-o a acalmar os soluços, como se fossem ondas revoltas a serenar no areal dos dias. Devo confessar que sempre tive uma imensa admiração pelos professores do primeiro ciclo, porque eles se desdobram em cuidados de proximidade humana, que o restante percurso escolar, infelizmente, parece dispensar. Se calhar, precisávamos de regressar mais vezes a esses lugares, onde se misturaram todos os grandes ingredientes da nossa felicidade. Na outra situação, os próprios alunos trataram de “sarar” a ferida, por momentos revelada e sentiram apenas a vontade de dizer: -Professor, olhe que a…passou o tempo a chorar. Que coragem e que teia de cumplicidades os miúdos tecem com a ajuda dos mais crescidos? Não tem fim esse emaranhado de abraços, que muitas vezes nem vemos, mas que aguentam e prolongam as presenças para lá das paredes da escola… Talvez, nós, os professores todos, precisemos de um regresso ao passado, para recuperarmos o tempo de meninos na escola primária. Para podermos brincar sem limites. Para vertermos lágrimas sensíveis de ternura. Para não desacreditarmos a condição humana. Para não “ morrermos devagar”. Obrigado às professoras, professores, alunas e alunos do primeiro ciclo do Agrupamento por nos recordarem o poder das lágrimas.


Lisboa, 12 de março de 2022


Texto: Acúrcio Domingos




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