O direito à solidão...
- Prof. Acúrcio Domingos
- 16 de abr. de 2022
- 2 min de leitura
Solidão e não só…
Esta manhã, porque é esse o tempo em que começa a jorna, desafiei os meus alunos do 8.º C a refletirem sobre a importância da solidão, na expressão de MEC (embora se leia como a cadeia de comida plástica, não tem nada a ver, se bem que o escritor goste de mesa abundante, compensada com chás…), um direito fundamental da humanidade, embora não expressamente consagrado. Nesta idade, os textos mais arrojados são sempre difíceis de mastigar, mas o tempo de digestão, em Moral, é vagaroso e paciente. Gostamos de ficar a ruminar, porque temos vagar… Não deixei de puxar os alunos para a poesia da Semana Santa, desenhada numa subida do Cristo ao Monte das Oliveiras, onde ficou em solidão desejada. Não tive tempo de lhes apontar a fraqueza humana, vertida em sono, descoberto pelo Cristo no regresso do isolamento voluntário. É nesta dupla imagem, que nos situamos hoje todos. Os que precisam e procuram silêncio e os que o dispensam, por se bastarem com a agrura da jornada ou a impossibilidade de terem casa e lugar para a paz necessária. Nenhum de nós escapa a estas linhas desenhadas no dia a dia. Uma, de sentido único, sem traços descontínuos e sem áreas de serviço, conduzindo-nos sem cessar ao destino ou ao abismo da fuga. Outra, a que pede destinos vários e sobretudo lugares de abrigo, onde possamos descansar da viagem, ou repensar novas partidas. Não sei o que trará de reflexão este tempo de Semana Santa. É um mistério individual, gerido no interior, à medida da crença de cada um, sem interferências ou programas turísticos personalizados, sem direito a Spa, mas apenas a incómodos interiores e a profundas interrogações. É neste imenso traço de mistério que o Eterno habita, esperando pacientemente cada gesto da nossa parte, sem pressa, mesmo que a dor da Cruz, atualizada, seja insuportável, ou gere em nós dura incomodidade. Diante de tantos mártires no nosso tempo, como não acolher o desafio de pensar na morte e na redenção? O que será da humanidade se deixar de ter esse registo de compaixão por parte de todos nós? Nessa medida, o convite de ficarmos junto à cruz é também um repto a mergulharmos no mistério maior da Ressurreição. Não podemos prescindir de passo nenhum. Apesar da Vida e do Amor serem mais forte que a morte! Ou, talvez, por essa razão que nos foi deixada em herança! Boa Páscoa a todos(as)!
Lisboa, 11-4-2022
Acúrcio

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