No final... nenhum nos merece!
- Prof. Acúrcio Domingos
- 20 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
No “assalto” ao Capitólio pátrio, não houve os desacatos do outro, mas também não teve a projeção que esperávamos. Escolhendo as televisões tal lugar como o do espetáculo, e já o foi, em tempos, e de forma muito variada, pensei que teríamos, para lá do brilho artificial dos cenários e das luzes, algum rasgo que nos pudesse fixar o olhar e as atenções. Foi pelo menos isso que ansiei. Ingenuidade minha, confesso, confirmada com o decorrer do programa. Começando pelo princípio, estranho que os moderadores, que mais não foram do que serventes de perguntas inócuas ou previsíveis, não tenham sido escolhidos e ali colocados com critério de competência e acutilância, porque é disso que nós precisávamos. E, assim, tivemos de nos contentar com um espetáculo curto e cinzento, a desmerecer o lugar e o que ali acontecia em tempos. Para quem estava à espera de uma prestação de mérito alargado, foi uma desilusão. Para quem esperava, como eu, que sou muito dedicado às variedades, prestações a preceito, foi um descalabro, desmerecendo em tudo aquilo que os nossos mestres do riso e do gozo ali produziram no passado. Entre mentirosos e os que faltam à verdade, mesmo que com ar sério, a nossa escolha fica curta. Pouco os diferencia, porque o tempo e o modo estão sempre sujeitos à forma de desenvolvimento do debate. E, aí, os menos escrupulosos, manipulam, mentem de forma descarada, e, logo que descobertos, ofendem-se rapidamente, porque sabem que a alma lusa é muito sensível a essa espécie de rasteira que os cidadãos comuns não apreciam porque, para eles a verdade ou mentira são conceitos evidentes e onde a culpa curta pesa. E, assim, no Parque Mayer modernaço, não pudemos alcançar esclarecimento maior ou digno de nota, mas apenas contentar-nos com figurantes, sem “cabeças de cartaz”, apesar de o desejarem, por a arte ser um dom superior, que poucos podem alcançar. No Capitólio pátrio, onde os figurantes atuaram, nenhum foi digno de admiração. É pena! Tal significa que nem na política espetáculo, mesmo que seja farsa ou mentira, podemos confiar! É o único trunfo que uma prestação vergonhosa ou medíocre nos deixou à mão, para podermos, no mínimo, desconfiar. Há um ano, na América, houve um Trump que incitou à invasão. Aqui, porque não somos trampa dessa, a única coisa que nos propusemos foi acompanhar doridos a prestação de cada um dos atores… No final, confesso, que a única certeza que dita o meu voto é que, tudo ponderado, verdadeiramente, nenhum nos merece!
Lisboa, 19 de janeiro de 2022
Texto: Acúrcio Domingos

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