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Aprender a paz... em tempos de guerra

  • Prof. Acúrcio Domingos
  • 15 de mar. de 2022
  • 2 min de leitura

O compromisso com a democracia e tudo quanto ela alcança, levou-nos a descurar o tempo de vigília, exatamente aquele que nos faz confiar que a democracia nunca é um dado acabado, mas que está sujeita a perigos, em qualquer tempo. Dir-se-ia que a experiência europeia traumática de duas guerras mundiais, de que foi a principal autora e vítima, nos teria “vacinado” para o futuro. Todavia, como é costume em tempos de bem-estar ou abundância, desvalorizámos alguns sinais de alerta essenciais. Um deles, o de alerta, não exigindo sentinelas, nem quartéis, mas exigindo, de cada um de nós, uma atitude de grande firmeza, perante quaisquer desrespeitos ou violações. A verdade é que as nossas sociedades, desde a família, escolas e outras variadas instituições, foram sendo permeáveis ao pequeno delito, aquele que parece não deixar grandes marcas. Muitos deles, travestiram-se de pequenas birras, a que fomos cedendo, por pensar que o final, como nas histórias infantis, acabaria sempre bem. De repente, na velha Europa civilizada e martirizada de outrora, demo-nos conta que os ditadores persistem, apesar das vontades contrárias. Eles viviam, de resto, bem dentro do coração da Europa, com os rostos dos chefes de respeitáveis países, apesar das advertências dos líderes mais atentos. Assim sendo, o que aconteceu não é nada de novo. A não ser a confirmação de uma ingenuidade que, já na segunda grande guerra, nos fazia cambalear entre Chamberlain e a capitulação ou um Churchill e a luta sem tréguas. Os tempossão outros, dirão os estrategos militares e os “sábios” dessas áreas. Todavia, as lições “morais” do passado mostram com clareza a arte dos ditadores e a sua nula vergonha ou honra. Ao menos, na antiga Roma havia o “moralis pudor”, isto é, os agressores ou traidores conheciam, antecipadamente, o destino: o suicido ou o martírio. Na guerra atual, inadmissível, injustificável e com um agressor claro, que todos os dias martiriza e massacra gente inocente, falta honra e vergonha ao invasor e falta coragem aos aliados dos agredidos. Saltam duas imagens redentoras. Uma de uma idosa russa a manifestar-se a ser imediatamente presa. Outra, a de todas e todos os ucranianos que preferem morrer a capitular. De repente, socorri-me da História e relembrei o nosso Viriato de antanho. Fora hoje e, amanhã, ou num tempo próximo, estaria a caminho da Ucrânia para, ao lado dos desamparados, organizar a defesa necessária. Temo que, no final,se Zelinsky e o seu povo sobreviverem, como espero e desejo, possamos ver quem nunca se posicionou do lado errado desta guerra. Oxalá, as posições finais não nos envergonhem como civilização. Oxalá a paz seja possível, a breve prazo, para continuarmos a acreditar na bondade do ser humano. Para lá das desumanas decepções!


Lisboa, 2-3-22- Acúrcio



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