Violência no namoro
- Inês Dias
- 5 de abr. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 23 de jun. de 2022

Cada vez mais se ouve falar em violência no namoro. Seria de esperar que, numa sociedade que caminha na direção da igualdade, casos deste tipo de abusos fossem diminuindo. Mas, na verdade, somos confrontados pela realidade, que nos é maioritariamente contada pela comunicação social (sendo que esta nem sempre é fiável), de que todos os dias milhares de pessoas sofrem uma variedade absurda de abusos por parte do seu parceiro.
Quero, desde já, deixar bem claro que é importante combater o estigma de que homens não podem sofrer violência doméstica. A sociedade patriarcal em que vivemos perpetua, muitas vezes, a ideia de que o homem não pode parecer frágil. Isto leva à omissão da violência que o indivíduo poderá estar a sofrer por parte da companheira. A vergonha e o medo de ser julgado por uma sociedade que, em última análise, é machista, levam-lhe a melhor e fazem com que não seja apresentada queixa.
Outro facto que é importante mencionar é o de que se se ouve falar mais neste assunto, é porque também está a haver mais denúncias. Vendo isto por um lado positivo, parece que as vítimas cada vez mais escolhem pedir ajuda em vez de aguentarem sozinhas a dor e a solidão da violência que sofrem.
A violência no namoro pode adquirir diversas formas. A que é mais abordada, quando se toca no tema, é a violência física, pois é aquela de que conseguimos ver marcas e evidências de que realmente aconteceu. No entanto, é importante mencionar a existência da violência psicológica e também da violência sexual, esta última muitas vezes desacreditada por aqueles que defendem que numa relação um ato sexual forçado não pode ser considerado como sendo uma violação. A violência psicológica pode manifestar-se de diferentes formas. Os insultos são talvez a mais comum, em conjunto com a manipulação. Por não ser um tipo de violência que é físico, é muitas vezes ignorada, não abordada e deixada de lado pela sociedade. No entanto, é de extrema importância compreendermos que acontece e que pode causar danos gravíssimos à saúde mental de qualquer indivíduo.
A violência no namoro começa, também, cada vez mais cedo, e é por isso muito importante dotarmos a camada jovem da nossa sociedade de conhecimentos que possam ser úteis numa situação deste tipo. Por exemplo, como reconhecer padrões violentos, agressivos e abusivos, as chamadas “red flags”. É importante também saber o que fazer e que medidas tomar na instância de não ser a vítima, mas sim de conhecer uma.
Atualmente, em Portugal, há diversas associações que apoiam qualquer vítima de violência doméstica. No entanto, os números que todos os anos recebemos da Associação de Apoio à Vítima são assustadores e fazem-me acreditar, piamente, que ainda há muito a ser feito para combater este problema.
Uma grande parte da população poderá dizer que cabe aos pais educar os filhos para não serem violentos ou tóxicos com qualquer eventual parceiro romântico. Não poderia estar mais de acordo. No entanto coloco a seguinte questão: Tendo o jovem crescido e sido criado numa casa na qual a violência por parte de um dos progenitores para com o outro era regular e constante, terá ele recebido a educação necessária para não repetir os mesmos padrões e comportamentos? Ou será que o mesmo terá crescido a pensar que tais comportamentos são socialmente aceitáveis?
Por estes mesmos motivos, era importante que as escolas tomassem ação. A realização de palestras e campanhas informativas sobre este tema poderia fazer uma grande diferença e até mesmo salvar vidas, colaborando significativamente no combate a estes abusos, tanto psicológicos como físicos. É necessário, também, que tais campanhas e palestras sejam realizadas de maneira a chamar a atenção dos jovens, porque muitas vezes estes menosprezam a gravidade desta situação. Uma maior divulgação dos números que prestam apoio às vítimas deste crime pode também fazer uma grande diferença.
A verdade é que as escolas nem sempre fazem um bom trabalho, muitas vezes este nem sequer é suficiente. Perante este facto, penso também que é importante haver a divulgação de informação através das redes sociais e da televisão. Isto poderá encorajar alguma vítima a pedir ajuda e a não se sentir sozinha. Dar voz àqueles que já sofreram estes abusos pode fazer a diferença, pois fará com que as vítimas sintam que têm uma voz e que são apoiadas pela comunidade.
O medo que assola as vítimas de poderem vir a ser agredidas após uma denúncia, impede-as de a realizar, no entanto há outros fatores que influenciam esta decisão, por exemplo a noção de que muitas vezes o sistema jurídico falha para com elas, não lhes dando qualquer importância, nem àquilo a que foram sujeitas.
Ainda há muito a fazer para resolver este grave problema. Penso que a ação começa nas escolas e que, sem deturpar os dados, (porque há de facto mais mulheres que sofrem violência no namoro do que homens) se deve combater o estigma de que homens não podem sofrer estes abusos, divulgando também números de apoio e criando núcleos de forma a apoiar as eventuais vítimas, prevenindo assim que a situação se agrave cada vez mais.
Concluindo, há que informar a população. A desinformação é a nossa maior inimiga e é esse o elemento que tem de ser atacado para resolver não só este problema, como tantos outros referentes à igualdade e direitos humanos. O papel adquirido pela comunicação social pode ser o de maior relevância pois, se bem realizado, pode ser prestado um certo apoio à distância a toda e qualquer vítima.
Autoria: Inês Dias n.º17, 11.ºC1

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