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O porquê de Young Royals se ter tornado num sucesso internacional

  • Beatriz Ferrão
  • 2 de nov. de 2021
  • 4 min de leitura

Após semanas e semanas da Netflix me estar constantemente a recomendar a nova série Young Royals, e cansada de abrir o TikTok para ver todos os vídeos na minha For You Page com a mesma temática, no meio de uma tarde de verão, finalmente decidi ceder à pressão que a internet me parecia fazer e comecei a ver o primeiro episódio desta nova série.

Não sabia nada sobre o enredo, exceto que se tratava de miúdos ricos num colégio privado. Comparei-o imediatamente a Gossip Girl, mas especialmente a Elite. Entretanto, Young Royals acabou por se revelar como algo mais parecido a Skam, uma surpresa agradável.


A série sueca segue Wilhelm (Edvin Ryding), o filho mais novo da família real sueca, que após ser apanhado numa luta num clube noturno é enviado pela sua mãe, a Rainha Kristina, para Hilesrka, um prestigiado colégio interno que tem educado gerações de membros de elite por anos.


Apesar de ir contra a sua vontade, Wilhelm encontra em Hilesrka a oportunidade perfeita para finalmente explorar o seu verdadeiro "eu" e descobrir que tipo de vida realmente deseja. Wille começa a sonhar com um futuro cheio de liberdade e amor incondicional, longe das obrigações da realeza. Porém, quando inesperadamente se torna o próximo na linha de sucessão ao trono, Wilhelm vê um novo destino ser traçado diante dele.

Imagem: Netflix (Divulgação)

Porque é que Young Royals se tornou num sucesso? Não é só mais uma série de adolescentes ricos que disfrutam da vida sem terem quaisquer obrigações ou preocupações?

A resposta é simples, não. Apesar de ser de facto apenas outra série sobre e para adolescentes, Young Royals diferencia-se de todas as outras pela boa aproximação à realidade que nos propõe. E por isso temos a agradecer às talentosas realizadoras Lisa Ambjörn, Lars Beckung e Camilla Holter.

Em vez de atores de 25 anos a representar papéis de adolescentes no segundo ano do secundário, no ecrã vemos pessoas que têm a mesma idade que representam. As borbulhas e marcas são protagonistas face às peles perfeitas que muitas vezes vemos no cinema. Não há cabelos perfeitamente penteados em cada take e as raparigas não vestem só entre um 32 e um 36.



O príncipe que tem ansiedade e se comporta como um adolescente

Imagem: Netflix (Divulgação)

Em dramas como Elite, por vezes a parte “dura” de ser um adolescente é posta de parte. Em Young Royals, isso não só não é esquecido como lhe é dada uma maior relevância, ajudando a aumentar a realidade de cada cena, mesmo que todo o clima da série não se adeque exatamente à experiência normal do liceu.

Wilhelm é retratado como um rapaz indeciso, inseguro e nervoso. É palpável a ansiedade que sente em muitas das cenas, o roer das unhas e as pernas agitadas, assim como os súbitos ataques de pânico. Wille está longe do estereótipo de príncipe galã e carismático. Na sua atuação transparece o desconforto de ter de se resumir a uma posição que não quer ter e a dificuldade que sente em lidar com os seus próprios sentimentos.



A inexistência de personagens bidimensionais


Outro fator importante a realçar é o excelente trabalho em relação a cada personagem. Não é raro vermos filmes e séries a aprofundar apenas a vida e personalidade da personagem principal: o vilão é só o vilão, a melhor amiga é só a melhor amiga e o interesse amoroso é só o interesse amoroso. Young Royals eleva a fasquia. Em apenas seis episódios conseguimos ver que todas as personagens tiveram os seus arcos desenvolvidos sem que o arco principal tivesse de fazer qualquer tipo de cedência.


















Vemos Sara (Frida Argento), irmã de Simon, que sofre de TDAH e Asperger e apesar de ser um foco parcial da série é perfeitamente notável o esforço para desenvolver a sua personalidade, traduzida na dificuldade de fazer amigos, ao mesmo tempo que preza alguns. Outro exemplo de uma personagem perfeitamente desenvolvida é Felice (Nikita Uggla) que, apesar de nos primeiros capítulos pensarmos estar perante mais uma insuportável vilã rica e mimada, insegura e cheia de preconceitos classistas, rapidamente entendemos que a sua evolução acaba por ser muito cativante, adaptando-se à realidade que a rodeia.


Temos também August (Malte Gårdinger) É uma personagem com grande importância na narrativa como Felice, que começa por parecer uma personagem clichê, mas que para os olhos atentos pode se parecer passível de redenção. Há várias cenas que se referem à imagem corporal e a desordens alimentares do mesmo, algo que esperançosamente será mais explorado pelas realizadoras na segunda temporada, já garantida pela Netflix.



A representatividade LGBTQIAP+


Quando falamos de Young Royals temos de falar de Willhelm e de Simon (Omar Rudberg), da sua relação e de como é abordada de forma igual a todas as outras, sem retirar os obstáculos que seguem qualquer relação de pessoas do mesmo género. Contrariamente aos avanços conservadores da Disney, como "Love, Victor" ou ao exagero de relações superproduzidas como "Elite", Young Royals relata a história de amor entre Wilhelm e Simon, e as suas cenas mais íntimas, com partes iguais de verosimilhança e sensibilidade, o que transparece em romance, mas também em insegurança. Na construção do casal, que tem como base um primeiro amor, vemos um desenvolvimento sincero e natural, repleto de momentos de paixão, ansiedade e tensão. Aqui, as interpretações de ambos os talentosos atores conseguem refletir a iniciação de cada sentimento de forma progressiva, tornando esta história verdadeiramente convincente.

Young Royals é um retrato mais atualizado e real dos problemas da adolescência. É também um importante rasgo criativo por se assumir com dois protagonistas homossexuais, ao mesmo tempo que não impõe esse relacionamento como o grande foco de interesse da ação. Este abre espaço para falar sobre a falta de privacidade, o bullying numa proposta muito mais interessada nas redes sociais, e sobre a saúde mental de quem vive numa bolha de suposta perfeição.


A sua popularidade também é importante, visto que cada vez mais vemos séries e filmes que nos conseguem fazer viajar em várias línguas e lugares, destruindo o estereótipo de que apenas o que é feito nos Estados Unidos é bom. A lista de conteúdos europeus de qualidade vem crescendo enormemente, obrigando-nos a alargar o nosso conhecimento cinematográfico.



Texto: Beatriz Ferrão

Revisão: Dinis Marques e Eulália Andrade


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