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Euphoria: uma revelação nos jovens

  • Beatriz Ferrão
  • 1 de mar. de 2022
  • 4 min de leitura

É impossível negar a atração que os adolescentes desta geração tem vindo a sentir com Euphoria. Porque é que isto está a acontecer?


Discussões entre uma adolescente viciada e a sua irmã e mãe que a apoiam (ou tentam apoiar). Máscaras de Halloween, cenas onde andam pelas paredes, sequências género detetive e diamantes na cara. Linguagem vulgar e histórias de infância complicadas. Looks de maquilhagem inovadores que rapidamente se transformaram num fenómeno fora da série: Tudo isto é visto em Euphoria.

O primeiro episódio da segunda temporada de Euphoria contou com mais de 2,4 milhões de visualizações, o maior recorde da HBO Max. Os membros da nossa geração correram para a plataforma de streaming no segundo em que a mesma deixou disponível os novos episódios, abrindo as portas para as histórias de Rue, Jules, Maddy, Kat e restantes, continuando a acompanhar o desenvolvimento das personagens num caminho que é tudo menos saudável.




É a fama de Zendaya, o fator de choque que vem da natureza explícita da série (não vista antes) ou as roupas ousadas e a energia confiante que todos desejamos canalizar?


Euphoria rapidamente tornou-se na série favorita entre os adolescentes de hoje. Existe alguma razão específica para o porquê? Uma explicação coletiva para percebermos esta explosão de popularidade?

Euphoria toca-nos porque mergulha nas águas ásperas e turvas de tópicos em que outros programas para adolescentes tem medo de abordar. E claro, é muito dramatizado (e de certa forma, às vezes, glamourizado), mas muitos destes conceitos são familiares entre os jovens. Embora que, nem todos se consigam relacionar com as intrigas em torna do abuso de drogas ou saúde mental, acabamos sempre por conhecer alguém que já tenha estado em situações parecidas aquelas representadas na série. E ver Euphoria pode ajudar nos enquanto espectadores a ter empatia com estas experiências ou lidar com as nossas próprias.


O diálogo vai de encontro à maneira como falamos hoje em dia - salpicado de “tipos” e “hmm”, uma falta de eloquência quando estamos cansados ou distraídos, palavrões à esquerda e à direita e discursos longos consequentes da raiva acumulada.


Com a gama de temas pesados ​​discutidos, é perigoso que a estética de Euphoria seja constantemente celebrada e, às vezes, desejada?


O próprio Sam Levinson, criador de Euphoria, numa entrevista para a Variety admite que "Eu acho que sempre que se coloca qualquer coisa num ecrã, estamos a correr o risco de "glamourizá-la" apenas pela natureza de estar num ecrã. (…) Eu não quero [estar a desencadear essas reações], mas também temos que ser autênticos sobre estes temas."


Imitar os looks de maquilhagem com delineador branco é uma coisa, mas o uso "glamourizado" de drogas é outra. Não é segredo nenhum que os jovens da nossa geração têm o hábito de idealizar as coisas, e o mesmo se aplica a Euphoria.

A cinematografia e as escolhas estilísticas do programa são, sem dúvida, impressionantes, o que leva a poder se tornar difícil não querer participar nas festas de Ano Novo do grupo, torcer pela Kat quando esta redescobre a sua confiança ou até mesmo ansiar pelo romance entre Rue e Jules. E honestamente, não há nada de mal nisso. O que torna este desejo negativo é que maior parte das escolhas que estas personagens toam de modo a alcançar os seus objetivos entram em colisão com a linha de expectativas seguras e saudáveis para um adolescente, se não a ultrapassam completamente.



Há muito em Euphoria que não deveria ser desejado ou romantizado…

...como o relacionamento claramente abusivo entre Maddy e Nate, a divulgação não consensual de “nudes” ou atos de automutilação, entre outros. E embora seja importante conduzir estes temas de modo a esclarecer estas questões, seja para conduzir o enredo da história ou espalhar a conscientização por todos: é fácil deixar-se levar pela trilha sonora e luzes de néon roxas e rosas, deixando-nos mergulhar na fantasia da série, enquanto esta se confunde com a realidade que vivemos.



Para qualquer pessoa que vá ver a mais recente temporada de Euphoria, tem isto em mente: pode ser benéfico não só para ti, mas para todos, distinguir os aspetos de Euphoria que podem ser idealizados (maquilhagem, moda, etc) daqueles que são falhas humanas reais ou questões sociais.


Centro de recursos e linha direta de Euphoria

A própria Zendaya, que não só faz de Rue, a personagem principal da série, mas também é produtora da mesma, não falha a relembrar todos os seus fãs da seriedade da série e como esta afeta o seu público, aconselhando o máximo de cuidados antes de embarcar na viagem que é Euphoria:

“Eu sei que já disse isto antes, mas quero reiterar a todos que Euphoria é para públicos maduros. Esta temporada, talvez ainda mais do que a última, é profundamente emocional e lida com assuntos que podem ser desencadeantes e difíceis de assistir. Por favor, assistam apenas se se sentirem confortáveis. Cuidem de vocês próprios e saibam que de qualquer forma ainda são amados e ainda sinto o vosso apoio. Com todo o meu amor, Daya.”




Uma das coisas que Euphoria faz de melhor é o reconhecimento de como as suas histórias e visuais podem desencadear reações menos positivas pelo público que as consume. euphoriaresources.com disponibiliza recursos e redirecionamentos para organizações acessíveis (Trans Lifeline, Partnership to End Addiction, Planned Parenthood). A série possui ainda uma Linha de Texto de Crise (enviar EUPHORIA para 741741), onde um conselheiro treinado respondera a cada mensagem ao vivo e ajudará o espectador a lidar com os momentos de desencadeamento da forma mais saudável.

Os temas da Euphoria, onde são discutidas a angústia adolescente, sexualidade, pressão de pares e o que os jovens sacrificam por qualquer sentido de liberdade são uma dramatização das emoções pelas quais passamos diariamente.


Mesmo que as histórias não sejam réplicas exatas do que passamos pessoalmente, os sentimentos evocados pelas representações exageradas da série atingem um ponto dentro de nós que nem todas as séries para adolescentes conseguem acertar.



Texto: Beatriz Ferrão




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