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Arte e Revolução

  • Beatriz Marvão
  • 5 de abr. de 2022
  • 3 min de leitura

A Arte é um grande pilar na nossa sociedade. Acompanha o Homem desde que ele existe, na sua evolução, na comunicação, e entre muitas coisas que consegue agregar. É impossível viver sem ela. É inevitável. Está presente e é sem dúvida um dos motivos e um dos agentes evolutivos da nossa civilização. Como não podia ser de outra forma, a Arte também esteve na Revolução de Abril, assim como em tudo o que envolveu, e ainda bem! É através da música, da dança, do cinema, da literatura, da poesia e do teatro que o ser humano se expressa, conseguindo até passar ao próximo coisas que não chegariam de outra maneira. Durante o período do Estado Novo, o povo vivia oprimido. Para além de serem privados da sua liberdade de expressão, eram também censurados na sua liberdade artística de produzir e consumir. Todos nós sabemos aquilo que a força organizada das massas populares consegue alcançar, mas aliada àquilo que os semelhantes produzem entre si é possível mover montanhas e regimes. Foi este o caso. Apesar de proibida, os revoltados continuaram a manifestar-se contra o estado fascista, uns através da música, da poesia, ou das palavras, mas uma destas coisas estava destinada: a clandestinidade ou a prisão. Muitos versos foram escritos em papel invisível aos grandes olhos vazios. Muitas estrofes foram cantadas à porta trancada. As canções de intervenção eram a maneira de expor aquilo que se passava e o sentimento vivido, e muitos eram aqueles que a levavam avante, como José Mário Branco, Zeca Afonso, José Barata Moura e Adriano Correia de Oliveira. Músicas como "FMI", "Canta, Amigo, Canta", "Inquietação", "Liberdade" e "Somos Livres" marcaram e vão marcando o povo português. Ary dos Santos e os seus versos descreveram da forma mais bela e revolucionária a condição e o sonho do povo português. O poema "As Portas Que Abril Abriu" é das obras mais bonitas relacionadas com a Revolução dos Cravos. Começa por descrever Portugal, um país desgraçado "onde entre o mar e a guerra vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra", até ao momento que a força popular sai á rua e "Foi então que Abril abriu as portas da claridade e a nossa gente invadiu a sua própria cidade". Não podemos deixar de falar da música "Depois do Adeus", interpretada por Paulo de Carvalho. Às 22h55 de dia 24 de Abril foi transmitida pelos Emissores Associados de Lisboa, servindo como primeira senha para as tropas estarem apostos, até receberem o seguinte sinal. Esta canção, com letra de José Niza e música de António Calvário, foi escolhida pela sua imparcialidade política, relatando um típico relacionamento amoroso dos anos 70.


Após a primeira senha, era esperada a segunda, a decisiva, aí sim com caráter político, que iria acordar Portugal do seu estado. "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, é então a segunda música transmitida, para por as tropas em marcha. Está agora tudo pronto para avançar e libertar o país. Esta música, escolhida pelo MFA (Movimento das Forças Armadas) e saída do álbum "Cantigas de Maio", tornou-se desde cedo o Hino da Revolução do 25 de Abril e é símbolo da luta popular antifascista. Cabe a todas as novas gerações continuar a defender e a cantar a nossa Democracia. "Porém cantar é ternura

escrever constrói liberdade

e não há coisa mais pura

do que dizer a verdade"

Ary dos Santos


Texto: Beatriz Marvão



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