A tentativa de atingir o inalcançável
- Margarida Jacinto
- 5 de abr. de 2022
- 2 min de leitura

Desde os tempos mais remotos que o ser humano não deixa de discutir sobre a beleza. Não deixa de tentar encontrá-la, atingi-la e até, de certo modo, criá-la, para que possa apreciá-la infinitamente, sem que o sentimento prazeroso causado pela mesma desvaneça. Ainda assim, até aos dias de hoje, vários filósofos e artistas procuram saber: O que define a beleza? O que faz algo belo ou feio?
A beleza, enquanto conceito, passou por diversos contornos, ao longo da história da sociedade, apresentando mutações não só no tempo, como também no espaço. Por exemplo, a desarmonia e extravagância chegaram a ser consideradas belas no Barroco, e na imediata época seguinte, foram utilizadas como ofensa. Tal como o que é hoje considerado atraente pelos povos africanos é muitas vezes distinto, por vezes até considerado malparecido, pelos povos orientais ou ocidentais.
Os padrões de beleza, ou seja, o que é considerado belo por uma determinada sociedade, estão constantemente a ser reinventados e reconstruídos com base em acontecimentos históricos que mudam a forma de os indivíduos verem o mundo, cada vez a um ritmo mais acelerado. Como disse Fernando Pessoa, e passo a citar, “A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe/ Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão..." A beleza não passa de um conceito criado pela sociedade para distinguir o que é formoso e desejável, do que não o é.
Já que estes padrões de beleza se alteram da mesma forma que um dia radiante de Sol se transforma repentinamente num dia tempestuoso e cinzento, qual é o propósito de nos esforçamos tão arduamente para atingi-lo? Quem vive eternamente à procura de corresponder às expectativas da sociedade, viverá para sempre aprisionado, aprisionado por si próprio, e condicionado por algo que nunca será possível de atingir, o encaixe num padrão que se encontra em constante metamorfose.
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