"A mulher que correu atrás do vento"
- Matilde Alves
- 5 de abr. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de jun. de 2022

“A Mulher Que Correu Atrás Do Vento” de João Tordo é um livro cheio de reviravoltas, emoções intensas e histórias traumáticas com temas infelizes. Devem estar a perguntar: “Se assim o é porque é, que alguém o quereria ler?”. Pois é a isso que vou responder neste artigo…
Esta história retrata principalmente quatro mulheres, separadas pelo tempo e espaço, mas que acabam por se conectar mais tarde ou mais cedo. Chamam-se Beatriz, uma estudante universitária; Lia, uma sem-abrigo; Lisbeth, uma professora e compositora alemã de piano; e Graça, uma atriz famosa de teatro. Ao longo do livro, vamos conhecendo o passado e o presente destas personagens, vendo as suas histórias desenrolarem-se no meio de ambientes tóxicos e traumáticos. Percebemos que uma vítima também pode ser uma causadora do problema, que para cada uma delas há um lado bom e mau. Todas elas vão ver-se obrigadas a lidar com: depressão, abandono, e com a morte, o que umas vezes dá bons resultados, outras não… No meio das suas histórias individuais, vão-se cruzando, tanto diretamente como mais subtilmente.
Como já referido, a história é pesada e intensa, mas tem de tudo um pouco e aborrecido não é característica que a defina. Tem relações amorosas atribuladas, dramas misteriosos e cativantes, relações familiares complicadas e cheias de mágoa, assuntos tabu, como a pedofilia e o suicídio. Tem ainda uma bonita reconciliação entre personagens há muito distantes... Podemos inicialmente pensar que será banal e previsível, mas nas palavras de João Tordo num outro livro igualmente denso e incrível “Por vezes para se contar uma história extraordinário, é preciso, primeiro, contar uma história banal.” (Do livro “Ensina-me A Voar Pelos Telhados”). E foi isso que aqui se passou, parecia uma obra previsível na sua pintura geral, parecia sempre que sabíamos exatamente o que ia acontecer, e por mais que isso não seja incorreto, a narrativa simultaneamente surpreendia o leitor a cada nova página de uma forma inesperada.
Quando escolhi este livro não sabia bem o que achar e no início fiquei pouco ou nada convencida se deveria continuar a minha leitura. Mas ainda bem que o fiz, porque quando me apercebi da densidade e complexidade não o larguei mais, sempre emergida na narrativa. É uma obra com muitas referências que necessitam de uma boa cultura geral e literária para se compreender, tem uma escrita labiríntica e ao mesmo tempo
simples, que requer muita atenção do leitor. Deixa-nos pensar e refletir bastante, é uma leitura angustiante, muitas vezes desconfortante, e não é de todo um romance com um final feliz que possamos ler para fugir à realidade. É uma história melancólica, obscura e intensa. É claramente uma e várias críticas sociais, e um alerta para o lado mais sombrio da nossa psique. Isto pode ser considerado um ponto negativo para alguns, como mencionei no início, mas para mim foi o que me agarrou ao livro, esta escapadela às narrativas com final feliz irrealistas, com histórias banais que nos levam ao mundo perfeito dos sonhos. Escapadela essa que me trouxe ao oposto total que João Tordo criou, que nos prende à terra, forçando-nos a refletir e enfrentar os problemas da nossa mente e sociedade.
Aos leitores mais corajosos e prontos para um desafio, recomendo-vos “A Mulher Que Correu Atrás Do Vento”, assim como outras obras de João Tordo, este escritor que me deixou presa às suas palavras e obras.
Matilde Alves, 12ºH1, nº26
Disciplina de Português
28.01.2022
Uma grande lacuna minha nunca ter lido nada do João Tordo.
Numa das minhas visitas recorrentes a livrarias comprei precisamente este livro do João Tordo que está na minha "lista de espera das leituras".
Com este texto da Matilde fiquei muito curiosa de pegar neste livro e entrar no mundo deste escritor para mim desconhecido.
Teresa Diniz