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Qa___tar ou Catar

Na enorme suspensão em que o futebol transforma o mundo em pequenas ou coletivas alienações, perdemos a consciência moral, a nível mundial, da nossa verdadeira dimensão ética, independentemente das crenças ou beliefs que nos definem e acompanham. Chegamos, até, a crer que os males variados desapareceram por um mês, numa espécie de pausa calculada, sem marcação homem a homem, a míssil ou a ideologia. Uma antecipação secular do Natal cristão, feito em terras de magos, mas sem a verdadeira magia de mudar o coração dos homens, como proposto há dois mil anos atrás.

De alguma forma, se olharmos bem, está-se a repetir o ritual de então. Os grandes deste mundo não se poupam em deferências ou luxos desnecessários ou imerecidos. Qual quê? Se não ostentarem esses, poucas honrarias lhes restam para pendurar na jaqueta da fama. Também, nestas terras do Oriente se passeiam fomes diversas e pecados mundiais, a necessitarem de uma cobertura mais do que televisiva, realisticamente humana. No espelho quase universal que nos é mostrado, em doses duplas, diariamente, não aparecem os milhares de mortos para o espetáculo poder acontecer; no varandim da vaidade também não se vislumbram os dissidentes, as mulheres proscritas, as opiniões silenciadas, as minorias perseguidas e nem se inscreve o símbolo da paz no centro do terreno de jogo.

Há uns anos, escutei uma imagem muito bela que suja o brilho dos dias dos infantinos deste mundo: quem se importa com os carregadores de andaimes, agora que a construção brilha ao sabor do dono?

No final da representação fingida, pouco há-de soprar de verdadeiramente criador num modelo de regime onde tudo fede, inebriado a gás natural ou a crude e teremos de catar outras paragens mais promissoras.

Porque, para alguma salvação ser possível, era preciso que o evento mundial, que nos consome, chegasse ao coração e o transformasse, como aconteceu há dois mil anos atrás. Foi isso que o Cristo pediu aos Reis Magos: para seguirem por outro Caminho. Neste caso, não tenho dúvidas que a sugestão foi o de não perturbarem a autoestrada dos grandes da terra. Quem ousará tomar outras direções? Oxalá, os nossos heróis de 1640, tenham deixados sementes pátrias de dissidência deste unanimismo que mata! Oxalá, possamos continuar a ser dignos de nos olhar ao espelho da Liberdade porque todos eles bravamente lutaram!

Lisboa, 11222- Acúrcio

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