O real ou putativo candidato
- Acúrcio Domingos
- 1 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Escrever, ou ousar, é sempre um universo imenso e inacabado de palpitações ou emoções, levando-nos, algumas delas, à incredulidade de nós próprios. Imagino o que terão sentido os escritores consagrados, cada vez que empreenderam cada uma das viagens literárias….
A mim que sou, olhando os mestres, um eterno aprendiz incorrigível da arte da escrita e da sua sonoridade, as balizas que a transformam em arma eficaz contra a letargia modernaça, em que a imagem nos transformou a todos, meros aprendizes, uma espécie de Salieris sem mérito, nem magia de mãos, tentando reduzir Mozart à imagem caricatural que dele fazia, resta-nos o desejo de ter sido mais do que fomos ou conseguimos.
É, no fundo, o poema sublime de Sá Carneiro, “ Um pouco mais”, que nos guia nas desventuras ou maiores incapacidades e que agora vem à lembrança, no tempo de pensar e preparar uma qualquer candidatura ao mando.
Muitos acharão que nem sequer música o candidato sabe ouvir, sobretudo aquela que lhes inebria os ouvidos, mesmo que destoando do resto da orquestra , que abnegadamente porfia em seguir a partitura…
Outros acharão que o toque ou o tom da melodia não se coaduna com o formalismo da melodia, impossibilitando a harmonia que o tempo requer….
E depois, há os que confiam no poder da improvisação, para além do formalismo repetitivo e pouco empolgante da música do tempo, num rumo que aparenta discórdia, mas que mais não faz que puxar cada uma ao limite de si, mesmo que pareça imprevidente precipício, que longamente se tenta sempre evitar….
Quando somos candidatos, reais ou putativos, a nossa posição é, desde o desenho da partitura à sua execução, uma espécie de navegação controlada mas imprecisa, uma ordem sujeita ao rasgo e ao inesperado que o tempo de toque nos pede sem claudicarmos a essência da obra de arte, mas conciliando-a com a nossa mestria de condutores de uma orquestra numerosa , mas a precisar de batuta, sem medo ou constrangimento de mando. A um amante de Mozart ficará mal a admiração de Salieri. É possível! É sempre o risco que corremos de não aceitar como acerto a melodia concorde ou a infalibilidade da execução…
Tomara, como candidato, real ou putativo, que a orquestra da Eça deslumbrasse pela execução de uma obra-prima sem medo de errar….
Quem desdenharia desse atrevimento? Por mim, venha o maestro! A orquestra está a postos…
Vila Viçosa, 1-2-23- Acúrcio
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