Eça Terra que nos sustenta...
- ecanews
- 31 de jan. de 2023
- 2 min de leitura
De manhã, sendo que é de manhã que se começam os dias, obriguei-me a fixar à parede da Parque o inesgotável painel de Leonardo da Vinci, adequado ao tema.
Nesse tempo, senti-me regressar ao iluminismo pretérito, arcando com o peso multívoco da imagem do mestre.
A arte é essa sedução suave, profunda, que nos atinge tipo raio em dia de tempestade. Primeiro fixa-nos o olhar na beleza e na imensidão do mestre.
Depois, deixa-nos tocar nela e, simbolicamente, atira-nos para o lugar da contemplação! Que sensação transcendente, não é?
O Afonso, aluno da Eça em tempos e agora residente na PN perguntava-me, no meio da sua imensa curiosidade, o que seriam os gatafunhos indecifráveis que legendavam a imagem do “Homem de Vitrúvio”. Acompanhei-o na viagem interior e misteriosa, à procura de respostas prontas, com um conselho: há coisas que a Humanidade jamais poderá descobrir…
É isso mesmo. Seja no caso, seja noutro.
Esta nossa vontade de descodificar tudo na vertigem de uma pesquisa, mesmo que seja do Google, tem espaços impenetráveis a todos nós, meros mortais, à procura de significados para o que olhamos, mas não vemos...
Por sorte, no mesmo dia, encontrei uma aluna da Vasco a preparar-se para um teste de Filosofia. O manual tinha um nome raro, mas a merecer crédito: “O espanto”.
Ora aí está a primeira abordagem que todos devíamos ter para olhar o mundo, a arte, a reflexão e todo o poder imenso que tais disciplinas formais ou informais nos deviam provocar…
Não creio que tenhamos essa capacidade de reagir ao que é belo, ou ininteligível, pelo menos no imediato, com essa notável expressão!
Tentaremos sempre arranjar uma nota de rodapé, uma legenda, um comentário, para cobrir a nossa vergonha ou justificar o nosso saber.
E, no entanto, todas as obras de arte, sejam elas quais
forem, o que deviam provocar em nós era o espanto e a fome de o ter…
Que bom termos colocado na Parque e na Vasco da Gama já esse desafio irrespondível à primeira vista. Que bom irmos replicá-lo na Eça.
Que melhor inscrição na escola, enquanto espaço de aprendizagem, do que aquilo que não é facilmente decifrável?!
Lisboa, 4-11-22-Acúrcio
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