Cair para dentro, de Valério Romão
- Beatriz Carvalho, 12.º C3
- 31 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
O autor
Valério Romão vive em Portugal, apesar da naturalidade francesa.
Pai de um menino com autismo, serve-se desta casualidade para escrever um livro com o nome da doença. Surge, assim, “Paternidades falhadas”, uma trilogia a cerca de relações familiares, paternas ou maternas, que de certa forma fracassaram, com “Cair para dentro” como ponto final.
Bem como o autor, a personagem principal é licenciada em filosofia, sendo este tema, por vezes, explorado e aprofundado ao longo da obra.

A obra
“Paternidades falhadas”, trilogia de Valério Romão, chega ao fim com “Cair para dentro”. Um livro sobre uma mãe e uma filha. Mas não só.
Apesar da minuciosidade com que controla e rege a vida da sua progénita, Virgínia mostra-se, repetidamente, insatisfeita e contra as escolhas da mesma. Portanto, Eugénia esconde a veia poética que tem em si, engolindo papéis com as suas composições e adultera o boletim de candidatura ao ensino superior, sabendo ser essa a única maneira de conseguir seguir e desenvolver o seu caminho na área da filosofia. Mesmo atormentada pela ininterrupta desaprovação por parte da mãe, apercebe-se que vê-la apagar-se, fundir-se com a doença do esquecimento e cair na vicissitude que é o Alzheimer se torna a verdadeira batalha e aquilo que, também a ela, acaba por consumir.
A constante mudança de narradora e os muitos espaços temporais dificultam a leitura, contudo, com a continuação, certos episódios e momentos deixados em aberto são esclarecidos e percecionados aos olhos da outra personagem. Assim, aquando do desenvolvimento da obra, é-lhe adicionada uma nova e mais significativa proporção. Além disto, a verosimilhança com o quotidiano, onde podemos reconhecer-nos nas conversas diárias apresentadas (por exemplo, quando, ao longo do livro, Eugénia vai “dizendo” “hum, hum” às pessoas de que fala, frequentemente, à mãe, com o objetivo de as despachar ou fingindo que as ouve) e até o modo, em tudo muito fiel à realidade, como a patologia de que Virgínia padece é exposta evidenciam a capacidade do autor em transpor o mundo por palavras.
Em suma, são os motivos enunciados, independentemente da pequena e inicial confusão, bem como da tentativa de situar e entender qual a relatora portadora de um dado ponto de vista, que tornam estas páginas uma boa ocupação e companhia passageira.
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