Boas Festas!
- Acúrcio Domingos
- 20 de dez. de 2022
- 2 min de leitura
Embalados pelas luzes, que já se fazem sentir na cidade, por força dos mandantes no mundo que nos coube em sorte, mas sem outro horizonte visível que não seja consumirmos dentro da quadra habitual, mesmo que de forma mais parca este ano, por força das inflações que pesam, pelo menos para alguns, muitos, diria eu, eis-nos chegados à data onde todos nós nos reduzimos ou ampliamos no que queremos ser ou repetir, engrossando os plateau de luzes, ou buscando, de forma mais recatada, o nosso verdadeiro lugar, sem luzes de ribalta, mas na discrição das aldeia, vilas ou cidades a que nos acolhermos, em busca daquilo de que nunca poderemos prescindir, sob pena de perdermos o rumo que sempre nos guiou e guia. Ressoam nesta altura, nos nossos ouvidos, as palavras sábias dos nossos pais e avós que nos relembravam o essencial de qualquer festa, em especial do Natal, por ela ser o símbolo maior do desprendimento e da nossa nudez mais profunda e, portanto, mais humana. Um menino que nasce, na forma de todos os outros, embora sem as benesses de nós todos os nascidos depois, porque desprovido de todo o conforto mais elementar, exceto o essencial: uma mãe, um pai e alguns animais de companhia. Chegámos a um tempo outro que precisa de se confortar e não tolera qualquer limitação a esse estado de bem-estar! Como se fosse um ganho do nosso tempo?! É essa teimosia ou obstinada vontade de não acatar a nossa eterna dependência, por termos tido longas tréguas no desfrutar do consumo irracional e doentiamente dependente, sem o olhar à superfície e para o mar de carências que nos envergonham, que justificam que neste Natal não me ofereça um poema de Natal! Os poemas são uma espécie de salvação para todas as nossas pequenas e grandes máculas, redimidas numa leitura profunda da voz do poeta, qualquer que ele seja. Neste tempo novo, sem definição, nem legenda concisa, precisamos de lançar mão de algo que nos agarre a versos mais profundos e nos atire contra o mar das interrogações sem limite que nos cercam: quando seremos capazes de nos olhar ao espelho, sem medos ou vergonhas de estilo, de modas ou de escolhas? Natal é esse tempo, servido, de forma brutal e cristalina do que a nossa condição mortal é capaz: de atirar para a “vala comum” dos ignorados deste mundo, aqueles que se vêem obrigados a partir, ou antecipar novos destinos. O que fizemos da VIDA oferecida em plenitude há dois mil anos atrás e repetidamente oferecida e renovada em cada sombra de qualquer festa da cidade refulgente? Precisamos de percorrer as ruas íngremes e sombrias do nosso tempo? Sem dúvida! Para que o Natal verdadeiro, a que precisamos de chamar Vida, seja um destino de todos os que habitam esta Terra! Em qualquer lugar e de forma humanamente digna! Feliz Natal 22!
Vila Viçosa, 9-12-22- Acúrcio
https://youtu.be/OLilYpRAuU4
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