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Escrevendo contra a corrente...

  • Prof. Acúrcio Domingos
  • 4 de jan. de 2022
  • 2 min de leitura

Duas manhãs de rotina alterada na vida escolar, num desenho consensualizado do que podia, de quando em vez, enquanto não o pudesse ser sempre, uma Eça Com Vida, há registos que convém fixar, para reflexão crítica de todos, num futuro próximo.

A tendência de uma grande parte dos docentes para reivindicar matéria e forma para a sua disciplina, em detrimento de qualquer novidade desafiadora que chegue, confirma um envelhecimento de práticas, ritualizadas ao longo do tempo e anichadas em pequenos altares seculares, onde todos os dias cada um continua a fazer alegremente a sua celebração privada, com os fiéis que lhes coube em sorte a encherem cada capela, mas desconhecedores dos deuses, pessoas ou matérias, que têm de adorar.

Não que tais divindades, repartidas entre ciências, humanidades ou artes, desmereçam vénia, umas mais que outras, já se sabe, mas convenhamos que é pedir de mais que os aprendentes que, afinal, todos somos, saibam de cor e salteado lições, nomes ou textos com tão remoto passado.

Nesta liturgia pagã quotidiana, pouco lugar resta para tempos de festa ou solenidades outras, para quebrar os continuamente comuns, uma espécie de pausa desejada e necessária, para cotejar o antigo e o novo, que os reclamam e atualizam ou, apenas ,para deixar cair o silêncio da reflexão crítica de cada um sobre tais pedaços de intocada sabedoria.

E, assim, só resta aos poucos oficiantes, que nesses dias ainda alguns fomos, resistir na esperança de que novos e novos tempos virão.

Se valesse a pena, talvez aconselhasse vivamente a leitura do livro de Luís Aranguren Gonzalo, “É o nosso momento, O paradigma do cuidado como desafio educativo”, a todos nós na paz do Natal, que nos abre as portas aos mistérios do nascimento do Deus menino, pedindo-nos essa atenção não só a Ele mas a outras novidades que nos interessam a todos.

No balanço do que foi feito, louva-se o gozo e o trabalho dos que imaginaram e concretizaram, com empenhada paciência, as atividades desenvolvidas. As dramatizações diversas, os debates plurais e as atividades desportivas, tudo, em suma, o que foi proposto, deve ser motivo de orgulho e de vontade de ser continuado, sem desânimos, mesmo que tomados por alguma momentânea e justificada irritação.

Os currículos e as aprendizagens invisíveis ou informais, aquilo que verdadeiramente ajuda a tecer e fortalecer as relações formais de ensino-aprendizagem ainda são matéria-prima de pequenas minorias, como diria D. Hélder Câmara, mesmo nos tempos que correm.

Talvez a inspiração do Natal e os desejos de um novo ano produzam insuspeitadas mudanças.

Por mim, que já li o livro que timidamente recomendei, este é mesmo o nosso momento, para apostarmos num caminho partilhado e mais alargado e denso de aprendizagens, a começar nas relações humanas que todos os dias cruzamos na escola. Sem essa “ética do cuidado” que nos fortaleça, dificilmente resistiremos à voragem dos dias, às investidas do Ómicron ou de outra variante qualquer!


Um Feliz e renovado 2022!


Lisboa, 03-01-2022

Acúrcio Domingos


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