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Ano novo, vida nova

  • Beatriz Mira
  • 4 de jan. de 2022
  • 3 min de leitura

Sempre imaginei os anos como algo circular. Quando estou a pensar na minha “agenda mental” não consigo visualizar um calendário linear e que apresente um começo e um fim definidos. Nunca me fez muito sentido quando alguém me dizia que um novo ano me traria uma nova vida porque seria sempre a continuação da que estou a viver mesmo que houvesse mudanças. E a ti, fez ou faz sentido?

A maioria das pessoas recupera nesta época a esperança que se foi desintegrando ao longo dos árduos meses de trabalho. A esperança é projetada na passagem de um dia para o seguinte, que não é igual a todas as outras porque alguém assim decidiu. Os estudiosos apontam que o facto de o ano começar em janeiro teria a sua origem no próprio nome; janeiro é um nome em homenagem a Jano, deus romano das transições e das mudanças. Se isto for verdade podemos tirar algumas conclusões: a ânsia de mudança é algo intemporal e é interiormente muito forte. O ano poderia ter o seu início em junho, que está conotado com a deusa Juno, protetora das famílias e dos partos. No entanto, era mais importante destacar a mudança. Mais importante até que os imperadores Júlio César (julho) e Augusto (agosto).

É divertido imaginar romanos do século I antes de cristo a ir beber um copo no final da semana para pôr a conversa em dia e queixarem-se do quão saturados estão do seu trabalho ao computador das nove ás cinco. Possivelmente não seria bem assim. Será que comiam passas e bebiam no ano novo? Para que os professores de história não me matem, vou deixar-me de suposições. Mas deviam ter os seus motivos para darem tanta importância ás transições.

Nós aproveitamos a parte de trás da carta para o pai natal para escrever as tão famosas resoluções de ano novo. Nunca soube o que escrever, o que desejar ou pedir. Então, desde pequenina, concentro-me a observar o que os outros escrevem, desejam e pedem. Estes anos levaram-me a encontrar uma semelhança infalível em todas as “cartas aos foguetes”: todas pedem melhorias e, claro, mudanças. Mudanças de casa, emprego (ou simplesmente de colegas), de estilo de vida... «Este ano é que emagreço!». «Ah, eu este ano vou cortar no açúcar; é o veneno do Homem.». E ambos o dizem enquanto comem uma grossa fatia de bolo...

Muitos acham que uma vida nova se definirá com uma ida ao cabeleireiro no dia 2 de janeiro, com comer o número de passas certas quando chegar a hora da Cinderela sair da festa ou outra futilidade qualquer. Parece que a passagem do dia 1 para o dia 2 de janeiro é que tem realmente um poder especial. Essa passagem possui o poder de apagar a memória de muitos que, subitamente, deixam de se lembrar do que prometeram na noite anterior.

Não me faz sentido a passagem de ano ser o momento fulcral do começo de uma nova vida porque a cada dia temos essa oportunidade. A cada dia podemos mudar o que se passa ao nosso redor. Cada dia compõe milhares de segundos de chances de sermos a melhor versão de nós mesmos. Não só na passagem do dia 31 de dezembro para 1 de janeiro, mas em todas as passagens de um dia para outro que há no ano.

Se algo do que estás a ler faz algum sentido para ti, se chegaste a esta linha deste texto, então quero te propor um desafio. Este ano pega numa caneta e risca as resoluções que já tinhas feito. Depois, bem carregado, escreve “A CADA DIA”. Não te lamentes do que não fizeste e prometeste o ano passado. Usa esse tempo para te lembrares que as únicas divisões claras e uniformes que há num ano são os dias. Experimenta. O que é que tens a perder? Cada dia. Essa é a mudança que realmente tens a capacidade para fazer.


23 de dezembro de 2021


Texto: Beatriz Mira


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