"Almoço de Domingo", de José Luís Peixoto
- Dinis Marques
- 1 de fev. de 2022
- 2 min de leitura

“Almoço de Domingo” relata a história de vida do comendador Rui Nabeiro, um dos empresários mais carismáticos do nosso país.
Em 2019, Rui Nabeiro entrou em contacto com José Luís Peixoto, o autor deste livro, porque pensava que ele teria a sensibilidade necessária para deixar registados os momentos mais marcantes da sua vida numa biografia. O resultado é este romance biográfico, que concede ao leitor a possibilidade de acompanhar as rotinas, os gestos e os pensamentos de alguém tão nobre. “Almoço de Domingo” é, no fundo, um convite do autor para darmos um outro valor à vida e ao tempo, mas também às pessoas que nos rodeiam.
Este romance biográfico recorda as memórias mais distintas do fundador da Delta Cafés. Ao longo dos dias que antecedem o seu 90.º aniversário, Rui Nabeiro viaja ao passado para recordar os momentos que mais o marcaram ao longo de uma vida de emoções fortes. A relação com a família, a notoriedade que tem em Campo Maior e a ligação com a indústria do café são alguns dos temas que se destacam.
Este percurso de vida é paralelo à Guerra Civil de Espanha, ao Estado Novo e à Revolução de abril de 1974, mas também a figuras como Marcello Caetano e Mário Soares. O enredo termina durante um almoço de domingo, que reúne toda a família de Rui Nabeiro no dia em que completa 90 anos de vida.
Neste livro ficamos a conhecer melhor o comendador Rui Nabeiro, pelo qual sentimos uma admiração crescente à medida que vamos virando as páginas do livro. É uma história que demonstra a sua humildade, simplicidade e generosidade em relação aos outros.
Na minha opinião, este livro narra de forma surpreendente a história de vida de Rui Nabeiro. É um trabalho primoroso de José Luís Peixoto que tem a capacidade de causar impacto no leitor, ao mesmo tempo que é delicado e subtil com as palavras utilizadas. É um relato bastante intimista, por conter episódios até então reservados à intimidade de Rui Nabeiro.
Porém, apesar de a escrita do autor ser de leitura agradável, as constantes analepses impedem a construção de uma cronologia coerente, assim como a alternância entre a primeira e a terceira pessoa do singular tornam o texto sinuoso.
Não é um género de livro ao qual estou acostumado, todavia acabou por superar as minhas expetativas, pela escrita brilhante e pelos conteúdos enriquecedores. Recomendo vivamente a leitura desta obra a quem se queira aventurar neste género literário, que é pouco valorizado nos dias de hoje.
“O passado tem de provar constantemente que existiu. Aquilo que foi esquecido e o que não existiu ocupam o mesmo lugar. Há muita realidade a passear-se por aí, frágil, transportada apenas por uma única pessoa. Se esse indivíduo desaparecer, toda essa realidade desaparece sem apelo, não existe meio de recuperá-la, é como se não tivesse existido.”
Texto: Dinis Marques
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