"A Desumanização", de Valter Hugo Mãe
- Dinis Marques
- 4 de jan. de 2022
- 2 min de leitura

Esta obra, escrita por Valter Hugo Mãe, um dos escritores portugueses mais destacados do século XXI, foi inspirada numa viagem que o autor fez aos fiordes islandeses. “A Desumanização” fala-nos principalmente da morte e da solidão, na figura de uma criança de apenas onze anos, que ao longo da obra se tenta descobrir a si mesma e ao seu lugar naquela família e aldeia, onde todos se referem a ela como “a menos morta”.
Na minha opinião, caracterizar este livro é uma tarefa árdua, no entanto, a minha perceção geral da obra é bastante favorável, ainda que haja uma falta de equilíbrio pela violência que percorre todas as páginas do livro. É essa perversidade que, provavelmente, dá o nome ao livro: “A Desumanização”.
O prefácio desta obra é escrito por Miguel Real, que conta ao leitor o que esperar do livro, comparando-o com outras obras de renome. Nestas palavras que antecedem a história, Miguel Real desvenda previamente alguns mistérios e descodifica algumas passagens. A meu ver, este prefácio é fundamental para todos aqueles que leem a obra. Estas cerca de cinco páginas facilitam a leitura da história, visto que acabamos por entender previamente algumas referências. Talvez sem o prefácio, esta obra requereria uma interpretação mais profunda e demorada.
Este livro é de certa forma descritivo, emotivo, triste e intenso e para além disso, creio que toda a ação narrada seja um exagero, ou melhor dizendo, uma hipérbole.
Algo que me fez gostar do livro foi principalmente a forma como o narrador personifica a natureza e o próprio país onde decorre a ação, a Islândia. É extraordinário como um país deixa de ser um simples cenário para ter a relevância e a sensibilidade que uma personagem tem. Como outros aspetos positivos, valorizo a belíssima escrita de Valter Hugo Mãe, bem como o facto de os capítulos serem curtos, facilitando consequentemente a leitura. Cada capítulo é escrito para nos fazer pensar e refletir sobre a nossa própria vida e existência, de forma delicada. E isso é, do meu ponto de vista, um dos objetivos básicos da literatura: fazer-nos ponderar as nossas atitudes e no mundo que nos rodeia, melhorando o nosso espírito crítico.
Aquilo que não apreciei particularmente foi a perversidade, crueldade, violência e, de certa forma, sinistralidade, deste livro. O que eu considero um aspeto negativo é o facto de a história, mas sobretudo as personagens, não serem reais, ou quase parecerem sobrenaturais.
Foi a primeira vez que li uma obra deste escritor, mas surpreendeu-me pela positiva, embora não seja um livro para todas as suscetibilidades. Considero vivamente aventurar-me na leitura de outras obras de Valter Hugo Mãe.
Para concluir, recomendo a leitura de “A Desumanização” para quem queira viver uma experiência literária singular, do mesmo modo como uma reflexão profunda.
Texto: Dinis Marques
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