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Saúde Mental nos Jovens


I – A Saúde Mental dos jovens em Portugal e no Mundo

A saúde mental dos jovens não vai bem, nem em Portugal, nem no resto do Mundo. Tem-se culpado muito a pandemia provocada pelo SARS-CoV-2 e o confinamento que, no nosso País, começou, para as escolas, no dia 16 de Março de 2020, mas já antes dessa data havia sinais de que as coisas não estavam bem para os jovens, em geral.

Um exemplo: os Estados Unidos da América, que tanto teimaram em não fechar as escolas durante a pandemia, constatavam já antes desse problema mundial ter começado um aumento muito grande no número de estudantes à procura, nas escolas e nos centros de aconselhamento psicológico, de apoio ou ajuda pessoal. Já nessa altura, os técnicos do apoio e aconselhamento psicológico não chegavam para as encomendas.

A percepção e a consciência de que as coisas não estão bem para os jovens é de tal ordem que, em Portugal, eles próprios, na dinâmica habitual do programa do Parlamento dos Jovens (que leva a que sejam os alunos participantes numa edição a escolher o tema da edição seguinte), escolheram para tema deste ano, repare-se bem, o seguinte: “Saúde Mental nos Jovens – Que desafios? Que respostas?” A nossa escola, a Eça de Queirós, vai participar. Deseja-se que os alunos adiram em grande número e com muito entusiasmo.


II – O que é a Saúde Mental?

Meio a brincar, pode-se dizer que a saúde mental é uma coisa em que não se pensa quando as coisas correm bem; e quando não correm bem não é fácil, em geral, reconhecer e assumir que não se está bem. «Eu não estou maluco…», ou «Eu sei bem resolver os meus problemas…», são respostas que se ouvem com frequência quando alguém pergunta: «O que é que se passa contigo? Estás diferente… Tens a certeza de que estás bem?» Da tensão à exaustão psicológica, às vezes o caminho nem sequer é longo.

Para se definir saúde mental basta a definição de Saúde estabelecida em 1946 pela Organização Mundial de Saúde: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doença ou enfermidade”. Isto quer dizer que a pessoa se sente assim durante um período de tempo mais ou menos longo, e não é apenas uma situação episódica, que acontece só às vezes, mesmo que nesses episódios sinta um bem-estar pessoal muito grande.


III — Como pode cada pessoa conhecer melhor a sua saúde mental?

SENTIR. Pode-se dizer que sentir é pensar no que acontece no corpo e na mente antes de se ter consciência do que está bem ou mal dentro de si mesmo. Portanto, dê-se atenção ao que se sente. Às vezes não é fácil, sobretudo no que diz respeito aos sentimentos negativos: ainda antes de tomar consciência do que se passa dentro de si mesma, a pessoa, para evitar sofrer, inventa escapatórias, quase sempre infrutiferamente — é que os sentimentos são como a própria sombra, acompanham sempre a pessoa dona da sombra.

TOMAR CONSCIÊNCIA. A sombra duma pessoa não é sempre a mesma, tem um número imenso de formas, gostando-se umas e não se gostando de outras, assim como as fotografias em que a pessoa se vê, revê, gosta ou não gosta. Importante é ser capaz de se ver e de se reconhecer na sombra que naquele momento se produz.

AS IMAGENS E AS PALAVRAS. Tudo está na mente, antes de mais, na forma de uma imagem — e não há só imagens visuais, dê-se muita atenção aos outros tipos de imagens; mas, sim, as imagens são essencialmente visuais, as imagens visuais são de mais fácil acesso.

À imagem segue-se a impressionante construção do génio humano: a palavra falada, tão engenhosamente adquirida pelo uso sábio do aparelho fonador do ser humano.

O ser humano nasce automaticamente preparado para ser capaz de expressar as emoções no rosto, sem treino e aprendizagem; mas não os sentimentos, para expressar os sentimentos o ser humano precisa de simbolizar, e não há nada mais capaz de fazer isso do que os sons articulados (as palavras e as frases) da voz humana.

AINDA AS PALAVRAS. O uso da palavra falada, escolhida intencionalmente para expressar uma ideia, um conceito, uma emoção ou um sentimento, não atravessa, nos dias de hoje, um bom momento. Em geral, as pessoas estão, digamos, em baixo de forma nas suas competências linguística para dizerem o que pensam e o que sentem. Os ‘emojis’ dão uma ajudinha, mas são, e serão durante muitos e muitos anos, insuficientes.

Assim, a bem da saúde mental pessoal, cada pessoa deve procurar aumentar o leque de palavras à sua disposição para expressar, antes de mais, para si própria, o que sente. Vejam-se alguns exemplos (24 de cada):

Sentimentos positivos: alegre, bem-disposto, confiante, tranquilo, excitado, esperançoso, seguro, extasiado, apaixonado, encantado, eufórico, grato, orgulhoso, divertido, contente, aliviado, triunfante, animado, pacificado, optimista, maravilhado, deliciado, irmanado, amoroso.

Sentimentos negativos: triste, preocupado, amedrontado, inseguro, deprimido, ansioso, angustiado, desesperançado, abandonado, incapaz, desconfiado, frustrado, sozinho, injustiçado, desprezado, ignorado, exasperado, vencido, irritado, zangado, enojado, carente, envergonhado, desvalorizado.


IV — O perigo da solidão e do isolamento

É quase instintivo: quando uma pessoa não se sente psicologicamente bem, fecha-se sobre si própria e reduz o contacto com a realidade e as pessoas à sua volta. No fundo, como acontece nas doenças físicas: fica-se em casa para curar a doença.

Acontece que a solidão — a solidão ligada a sentimentos negativos — tem, em geral, um poder de sucção muito grande. Às vezes é como se se estivesse agarrado a uma pedra no bordo da corrente de um rio, a água corre cada vez mais turva, vê-se cada vez menos, e sente-se que alguma coisa puxa as pernas para baixo, chega-se a ter a sensação de que não se consegue resistir e vai-se mesmo para o fundo.

A impressionante história dos 12 rapazes e do seu jovem treinador, que estiveram presos no mais profundo dos isolamentos durante 10 dias numa gruta muito perigosa na Tailândia entre Junho e Julho de 2018, mostra que há sempre uma maneira de resistir; e que há sempre alguém capaz e disponível para ajudar mesmo quando se vai muito fundo no sofrimento psicológico.

Como diz a notável canção dos R.E.M., «Nunca desistas de ti mesmo, Toda a gente chora, Toda a gente sofre, Uma ou outra vez, Aguenta firme, Aguenta firme, Aguenta firme, Não, não, não, não, não, Tu não estás sozinho.»



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