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Cúpido sem romantismos

Com o mês de fevereiro chegam aos supermercados, lojas de roupa, Tiger (se bem que aqui até se vê bem mais cedo) uma infinidade de inutilidades rosas e vermelhas, felpudas e com coraçõezinhos.

Primeiro ponto: se querem celebrar o amor, façam-no com deve de ser. Não restrinjam o amor a um dia do ano. Ele merece um pouco mais de vós depois da alegria toda que já vos deu. (Adolescentes com crises de “ninguém me ama”, por favor, ao lerem este texto lembrem-se dos 90% da vossa vida em que alguém vos amou ou que amaram alguém.

Por um momento, durante a leitura deste texto ignorem o sofrimento. Se mesmo assim continuam relutantes, pensem que, se já tiveram um crush que nunca soube que vocês gostavam dele/a, é quase impossível que o inverso nunca tenha acontecido. Não se sintam mal, eu também sou “tapadinha”.). Gestos valem mais do que coisas. Em vez de cederem ao marketing, vão para casa e façam bolachas. Eu acredito que conseguem sem incendiar a cozinha.

E - Só para juntar o cliché - não se esqueçam do ingrediente secreto. (Caso sejas mais “tapadinho/a” que eu, é o amor.).


Segundo ponto: falem do que não se fala. Por outras palavras, nesta época em que tudo são cupidos a girar à nossa volta, falem a verdade.

Aceitem, de uma vez por todas, que se gostam de alguém vão mudar por causa dessa pessoa. Estamos numa época em que os conselhos que damos são “Não mudes por causa dele.” e “Sê sempre tu própria.”. Que atire a primeira pedra quem conhece alguém que não tenha mudado alguma coisa em si ou na sua relação com os outros por causa da pessoa que ama. É normal. Se ele/a diz que gosta mais de te ver com as calças x, começas a usar mais as calças x. O cabelo passa a ser sempre penteado para a direita se é assim que ele/a gosta mais. Deixas de dizer uma palavra, porque o/a incomoda. (PS: isto acontece mesmo que não se passe nada entre vós.). E, acreditem, se o sentimento for mútuo o inverso também se verifica. Porquê? Porque se tentam moldar um ao outro.

Conselho de milhões: não há panelas nem tampas para encaixar nas panelas; existem pessoas, por isso não procurem panelas, que essas só servem para pôr ao lume. Vão mudar, sim. Não se iludam do contrário. Se souberem bem quem é que vocês são, saberão que princípios é que não admitem quebrar. Alerto-vos, contudo, para não ultrapassem os vossos limites; há certas situações que é desumano permiti-las.


Terceiro ponto: se não têm, apreciem. Sem especulações, eu só vejo duas opções para não estares numa relação: ou não queres ou queres e não estás. Eu não me dirigirei agora para o primeiro grupo de pessoas. Possivelmente, nem gostam do dia dos namorados e desistiram de ler este texto na introdução. Então, para os restantes, eis o que recomendo. Neste dia catorze, sequem as lágrimas,

larguem os bombons, parem de ver os filmes que já sabem como acabam. Aperaltem-se e vão para a rua. Saiam com amigas/os ou vão sozinhos/as. Sentem-se num banco num jardim e observem. Vão revezando o olhar entre os pombinhos e os pombinhos. Sorriam simplesmente porque é fofinho.


Quarto e último ponto: aprendam a gerir as vossas espectativas. Sejam estas colocadas nos outros ou em vocês mesmos, não se fiem. Ninguém vai construir o vosso conto de fadas. Se o queremos têm que lutar por ele. Mas, quando houver percalços pelo caminho, vejam-nos como oportunidades para tentar de novo. Somos todos falíveis. Recentemente, aprendi algo que considero de extrema importância: os melhores momentos são os espontâneos ou aqueles em que nos metemos na situação sem qualquer espectativa. Se se colocarem nesta posição, qualquer atitude será uma surpresa e qualquer surpresa será mais do que suficiente. As pequenas coisas deixam de ser prémios de consolação e passam a ser grandes coisas que fazem o nosso dia.

Desejo para vocês e para mim que este Dia dos Namorados não seja como todos os outros. E que a diferença não se baseie no estado civil e nos stories do Instagram.


Beatriz Mira

10 de fevereiro de 2023

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